É, me acostumei com o cheiro forte do verniz. O verniz seca, agora, a nadadora em giz pastel, antes que borre, que apague, que desapareça. A gente se acostuma com tudo. Ainda mais quando é coisa assim, forte, que aumenta a permanência. Você cresce, envelhece, e nada é permanente. Nada! Quanto mais o tempo passa, mais tudo é nada, mais tudo é fluido e fugaz. E você desiste de domar a vida, e você aceita que não sabe tudo, que não sabe nada. E lê muito, e escreve tratados. E mergulha fundo, em tudo, e não sabe. Não sabe nada!
Você caminha, alternando o caminhar: passos firmes, decididos, olhar altivo; passos lentos, cabeça baixa, procurando, procurando, sem nunca encontrar. Tudo e nada! Tudo é tudo e nada! Leve como uma bigorna. É tudo o que é! Sempre! Nada!
E assim você vai, mergulhando, fundo e longe. Vai em apneia! Vai até não aguentar mais. E sobe, de uma vez, à superfície, onde não se vê a margem, onde não dá pé. É lá que você para. Para e enche o pulmão de ar, de uma só vez. Porque é preciso! É preciso encher o pulmão de ar! E de uma vez! Então exausta, sorrindo, você flutua e contempla o céu. Tudo e nada... É o que é.
Flutua e permanece ali, pesada como uma bolha de sabão. Voa mais longe, recostada em seu lençol de água. Linha fina, entre a densa e verde massa aquática e o infinito azul do céu. Azul, muito azul, do seco céu! Ele lhe contempla em retorno, deitada, inerte, exceto pelo movimento do ventre, que se estende e contrai, lento, o ar pelas narinas, o caminho natural da existência. O fino lençol lhe sustenta e você voa.Tapete mágico!
Você voa e esquece. Esquece tudo! O nada que pesa, o tudo que não há, o que é excesso, sobra, e o que falta. E sempre falta! Menos agora! Agora é a fina linha tênue e o equilibrar-se entre tudo e nada. Equilibrar-se, efêmero momento, entre a água e o céu. A terra lá embaixo, longe... Astronauta. Como astronauta, flutua.
Um movimento. Sempre há um movimento. É inesperado, é brusco! E você engole água, muita água, e engasga e tosse. Engole e tosse, tudo! E não há nada, nada que possa lhe salvar dessa água. Até que você se conforme e espere a água se acalmar. E você espera... E respira. E olha em torno. E resolve voltar, retornar.
Você retorna à margem e contempla água e céu. Da terra firme você contempla tudo o que não é de fato seu. Nem seu, nem de ninguém! Tudo o que é demais, tudo o que não controla, não domina. Contempla tudo aquilo que lhe chama sempre em tom ambíguo, que lhe convida, instiga, provoca. Contempla esse tudo e nada em que fundo mergulha. Esse tudo e nada, de onde nunca sabe se vai mesmo voltar.
Amiga, que lindo. Nunca me esqueço: o nada é o vazio que resta (História Sem Fim). Mas não o nada de nadar. Ai, tudo é muito confuso ;)
ReplyDeleteÉ isso mesmo, Vi! Tudo muito misturado. :)
Delete