Skip to main content

Posts

Showing posts from 2019

Retrospectiva

2 idiotas, um na presidência,  um logo abaixo, fora os outros  dois estrupícios, um aqui,  outro lá  0  contribuições para a UNE Zero grana para facilitar um movimento Zero vírgula sete por cento de desenvolvimento  Zero de vergonha na cara da mídia comemorando “a retomada” 1 povo desanimado e adoecido Um povo louco na rua pedindo volta da ditadura  Um dia para celebrar uma injustiça semi remediada  Um dia para se alegrar 9 vezes pensei em desistir, em partir Nove vezes me lembrei de resistir, de persistir Nove escritores no máximo é o que cabe aqui  Mas nove vezes nove vezes nove vezes nove vezes  Nos levarão a algum lugar  Quando ou depois de 2020 chegar 

Prego

Prego    sustenta Prego fura Prego monta Prego entorta Prego exclama na Itália PREGO!!!! Longe daqui Perto de lá Prego ofende Ô, seu prego! Perto daqui Longe de lá Prego prega quadro em museu Prego pregou gente na cruz Prego está em todo canto E é barato pra chuchu Parece uma coisa besta Mas prego é troço importante Tá na rua, tá no mundo, do sapato à ferradura, o prego é presença constante.

Sobre raiva, culpa e tristeza

Quando a primeira árvore tombou, não me doeu tanto. O ser racional em mim, lembrou: “já era o plano, não tem jeito! A projeção desse prédio um dia ia acontecer.” Foi quando a terceira árvore caiu e eu vi o passaredo voando em desespero que meu coração apertou. Sinto agora culpa por não ter me condoído pela primeira árvore. Passei a semana em dor e raiva por esses seres silentes assassinados diariamente na minha frente. A vontade é de ir lá embaixo e quebrar essa maldita barulhenta serra que destrói o que meu olhar se acostumou a apreciar, minhas vizinhas.  Os homens, simples e pobres, não têm culpa, mesmo assim tenho raiva deles, coitados. Raiva e pena porque são eles e não os mandantes que têm que ouvir as reclamações, os desaforos dos outros vizinhos mais corajosos ou mais desesperados que eu que vão lá com eles ralhar. Eu fico e fiquei aqui com a minha dor, vendo agora um lindo bando de borboletas amarelas em debandada.  Em breve não ouvirei mais os pássaros que

Como sobreviver a tempos áridos - Lorena Santos

Beba o triplo de água que costuma beber e o dobro de todos os outros líquidos que costuma ingerir.  Use soro fisiológico nos olhos e nas narinas em quantidade abundante. Não o mesmo soro!  3     Passe hidratante pelo menos três vezes ao dia, mesmo que não adiante nada.  4     Coma alimentos leves e “aquosos, como peixes e alfaces hidropônicas.        Leia um poema por dia. Pelo menos um!  6     Durma bem. Nem que tenha que recorrer a pílulas mágicas.  7    Rodeie-se de seres humanos verdadeiros humanos.        Faça arte!  9     Faça amor, mas antes ligue o ar condicionado. E o umidificador      Procure sombras e ande debaixo delas.  1    Caso não encontre sombras, não corra debaixo do sol, cubra a cabeça com o livro de poesia e caminhe  como se  ar  houvesse.         Não corra! Não entre em pânico! E não pense demais!

Como sobreviver a tempos áridos

Como sobreviver a tempos áridos: Beba o triplo de água que costuma beber e o dobro de todos os outros líquidos que costuma ingerir.  Use soro fisiológico nos olhos e nas narinas em quantidade abundante. Não o mesmo soro!  3     Passe hidratante pelo menos três vezes ao dia, mesmo que não adiante nada.  4     Coma alimentos leves e “aquosos, como peixes e alfaces hidropônicas.        Leia um poema por dia. Pelo menos um!  6     Durma bem. Nem que tenha que recorrer a pílulas mágicas.  7    Rodeie-se de seres humanos verdadeiros humanos.        Faça arte!  9     Faça amor, mas antes ligue o ar condicionado. E o umidificador      Procure sombras e ande debaixo delas.  1    Caso não encontre sombras, não corra debaixo do sol, cubra a cabeça com o livro de poesia e caminhe  como se  ar  houvesse.         Não corra! Não entre em pânico! E não pense demais!

Esse amarelo

É como sol de verão É como ouro de mina É vestido de praia  com flor vermelha, folha verde É a leveza e a alegria, que fácil, anos atrás, hoje,  não vem sem esforço É sorriso  de menina moleca  que corre e dá estrelinha  E aprende sozinha  É vitamina D na pele  É vitamina C borbulhando  na água gelada É correr, rindo, pulando  e se jogar no azul do frio mar É a bolinha do biquíni,  tão pequenininho  É a sombrinha que enfeita  o drink multicor   É o manto de luz que cobre o dia É a  estrada de tijolinhos  que vai  daqui para Oz É a vela do barco que me leva  a um lugar mais feliz

Folha

Fora folha Verde, vívida, pulsando luz em foto e síntese Fora folha Agora, é hora de ser outra coisa da matéria dos sonhos, fina transparência Fora folha Agora, esboço de artista Delicados detalhes de um dia em que fora Folha, fina, finda lenta, transparece o interno Resta, só, a ilusão do que um dia fora folha Resta a raridade do que teve raiz, que dançou com o vento,  que caiu das alturas Fora folha, transparente sendo, quase, hoje já não é mais . É jóia, bela, É outra, é paz.

On the impossibility of turning inwards and finding anything

As I seat here to write with a group of women from around the Globe, I feel I have to look inside myself. And myself, this week, is exhausted and cluttered. I am not sure I can look inside and find anything. Like a teenager's room, full of clothes and books scattered on the floor. I will probably find rests of food inside a drawer or a used ballet shoe among the t-shirts. Like a teenager, perhaps, I'm not sure I want to organize that room. I'm uncertain of where or how to start .  I've been losing things. These past two months of the year, this year that only had two months so far. I've lost a bracelet, a diamond ring, a necklace, not to mention a number of earrings I cannot locate. I've lost so much more in the turning of the year to 2019. Maybe I should not even care about these little things I've lost now. I, we, the country, lost hope, faith, the outlook for a better future. But maybe that is exactly why it upsets me losing any stupid small thing.

I could walk around naked

I dreamt once I could walk around naked and not be afraid. A feeling of peace covered me like a thin soft blanket. I no longer felt the icy cold stares of judgment and disapproval. I did not hear the common threats against my body anymore: No “I’ll hurt you”, No “I’ll control you”. I could walk naked and not be afraid. Walking around by myself I found a path beginning where the woods began.   Moonlight showed it to me. Moonlight guided me. I walked there amongst the trees. The sound of water always appealed to me and, through the woods, I could hear it calling on me. At the end of the path, the ground was sand and the water, covering and exposing it infinite times. I walked to where I was called, to where I heard my name.   I looked to the left and I saw them coming. I looked to the left and I saw them coming. I looked to the right and there came many more. They were naked like me. They could all walk naked and they could finally be free.
Nada na Natureza é completamente perfeito e é aí que reside sua perfeição.

Canto M(eu) - A bilingual reflection on being me.

Sou o tipo de pessoa que não sabe de onde é ou o que lhe define. Saí cedo de onde nasci e cresci em outro canto, com gente de tanto canto, que também não sei se eles mesmos sabem de que canto são. Eu não sei. Por um tempo achava que esse lugar para onde fui trazida era o melhor lugar: “Nesse país lugar melhor não há”. Acho mais não. Acho mais nada, porque por outros lugares andei, em outras paragens parei. E muito que admirei belezas e singelezas “que não encontro por cá”. O que sei, hoje, é que se sou esse tipo de pessoa sem canto pra chamar de meu, faço meu canto dentro do meu próprio eu. ... I’m the kind of person who does not know where she’s from or what defines her. I left early the place where I was born and came to grow up in yet another place, with people from such different places, that I don’t know as well if they themselves do know to which place they belong. I don’t. For a while I thought this place they brought me to was the best place of all place

Origami

Fine and delicate folded paper. White, in the middle of the room, it seems minuscule. It multiplies itself, however, through its projected shadow. Symbol of the beauty extending from myself to the other and returning to me. Small gesture, and gift, that brings me consolation and reminds me of why what I do matters. Because, after writing, someone folds a lovely light Tsuru and returns to me the wings I have helped setting free.