Houve um tempo em que pensei muito em bolhas de sabão. Na verdade, elas surgiam no pensamento, leves, uma transparência azulada, suaves. Lá permaneciam, flutuando, de um jeito que só poderia acontecer em sonho. Era um tempo de suavidade, de caminhar a um palmo do chão e voar para longe. Toda bolha de sabão tem uma janela. E eu entrava pela janela, sentia a delicadeza. Por dentro, contemplava a beleza das paredes finas. Eu via o brilho de cada arco íris. Toda bolha de sabão tem um arco íris. Eu a sabia imaginária e sabia que mesmo uma bolha imaginária não poderia durar para sempre. Flutuava com a bolha e contemplava a janela aberta. Até que as paredes ficassem mais e mais finas e o mínimo pop me avisasse do fim da bolha. Puf, era uma vez uma bolha.
Eu continuava a pensar na bolha de sabão, eu a trazia para o papel, eu a revivia. E quantas vezes sonhei e quantas vezes me deixei levar. A verdade é que sempre fui fascinada por bolhas de sabão. Não como o cientista do conto que estudava a sua estrutura. Nunca quis saber da estrutura da bolha. Sou o tipo de pessoa que se perde na rigidez das estruturas. É a beleza da bolha que me atrai. É sua leveza que me conduz, sua capacidade de vôo que me leva. É sua efemeridade que me atormenta.
Linda e leve é a bolha de sabão e eu carrego todo o peso do mundo. Meus pés afundam a cada pisada, cada vez mais fundo, cada vez mais pesado o passo. Eu preciso das bolhas de sabão e ainda as procuro. O passo é lento, a pegada é funda, mas eu sonho com bolhas de sabão e há sempre uma janela em uma bolha de sabão.
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