E na janela a gente podia ver um elefante voador. Era verdade! Muito leve, flutuava lentamente, em paz. Contei para ele, mas ele levantou a sobrancelha direita e espremeu o olho esquerdo, entortando o canto da boca para cima. Eu conhecia essa expressão. Ele permaneceu de costas para a janela. Nem por um segundo virou. Nem uma espiadinha de canto de olho! Não insisti. Relaxou a expressão, sorriu, chamou o garçom.
Suspirei! O que mais podia fazer? Suspirei, mas mantive os olhos fixos na janela, enquanto ele pedia as bebidas, os pratos, o dele e o meu. Mantive os olhos na janela, enquanto ele comandava o garçom com aquela voz de dono do mundo. Ele se gabava de saber lidar com as pessoas, de obter delas tudo o que desejava. Talvez eu tivesse acreditado nisso, um dia. Hoje, só o que via era um sujeito mandão e grosseiro.
Conseguia as coisas porque usava essa sua grosseria com funcionários, serviçais, garçons, isso sim! Fiquei imaginando quantas cinzas de cigarro não deve ter comido sem saber, quantos bifes esfregados no chão, quantas sobremesas cuspidas... Mas ele não tratava todo mundo assim não. Aqueles em posições interessantes, que podiam lhe trazer algum benefício, eram cuidados e tratados com esmero e delicadeza. Meus olhos continuaram fixos no céu daquela hora, que não é nem mais dia, nem bem é noite. Meus olhos ficaram lá, no céu.
Assim permaneci, contemplando o fim do dia, a noite chegando. Os tons rosados, avermelhados, substituídos pela escuridão. Vi, entre uma névoa fina, seus lábios mexendo sem som, seu riso de dentes brancos, jogando a cabeça para trás. Silêncio total!
Nítido mesmo era o céu, pontilhado agora de estrelas, nítido era o fato de que eu via elefantes que voam. Eu via, ele, não! O céu, meu olhar fixo no céu, a distância. Era melhor tomar distância! Olhei para trás, as casinhas cada vez menores, encolhendo, casinhas de boneca. Tudo tão pequeno, tudo já tão longe, muito longe! Voavamos agora, eu e o elefante! E ele, que não via, eu já quase não o via! Ele era um minúsculo ponto distante, imensamente distante. Um ponto que encolhia até que então, para sempre, desapareceria.
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