Era uma vez, há muito tempo, um reino que era sempre quente e ensolarado. Nesse reino, vivia uma princesa que não era apenas bonita, mas também muito inteligente. No mesmo reino, vivia um ogro. Ele morava, como muitos outros ogros, trolls e outras estranhas criaturas de contos de fadas, em uma caverna. Da sua caverna, ele vigiava uma ponte. De um lado da ponte, ficava a bela e ensolarada área do reino. Do lado da ponte do Ogro, tudo era frio e sombrio.
Quando o ogro olhava para a ponte, podia ver o lado ensolarado de tudo, mas ele nunca atravessava essa ponte. Era suficiente para ele contemplar as flores brotando à distância; as crianças nadando no lago em volta do castelo; e os amantes caminhando de mãos dadas, as mulheres em seus vestidos leves e coloridos, os homens com seus ternos de linho e chapéus. Ele, o Ogro, é claro, imaginava como seria passear com um ser amado como eles faziam, mas para fazer isso, teria que desistir do seu poder e seu poder era a coisa que o Ogro mais gostava. Qualquer um que atravessasse a ponte era morto e devorado pelo Ogro. Era isso, pelo menos, o senso comum no reino, passado de pai para filho, de mãe para filha. O ogro deliciava-se com o fato de ser tão temido pelo povo do reino, por poder exercer tanto poder, mesmo de longe.
A Princesa do reino era uma pessoa muito curiosa, como o são a maioria das pessoas inteligentes, e não estava contente com o fato de que, apesar de o reino ser quente e ensolarado, a área controlada pelo ogro era escura, fria e sombria. Além disso, enquanto o Ogro tinha uma linda ensolarada e verde paisagem para contemplar, quando os habitantes do reino olhavam além da ponte tudo o que viam era a escuridão que havia nesse lado. A Princesa não estava nada feliz com isso e ponderou que, como uma princesa, era seu dever tentar negociar com o Ogro.
Ela começou a ir a ponte todos os dias. Sentava-se lá com um livro o dia inteiro. Como ficava do outro lado da ponte, o Ogro não fazia nada. Ele até gostava de observá-la. Depois de, mais ou menos, um mês, o Ogro começou a sair da caverna. A princesa ficou impressionada com o quão não feio era esse ogro. Até tinha olhos bonitos e bondosos. Ela não encarava seu olhar diretamente, é claro. Havia aquela reputação de devorar pessoas vivas e isso, por si só, já mantinha mesmo a mais corajosa das princesas em algum estado de alerta. Ela também podia sentir uma sombra escura que, por vezes, encobria o olhar do Ogro. Mesmo assim, gostava do modo que ele olhava para ela.
A Princesa ainda considerava sua obrigação para com o povo do reino tentar alcançar um acordo com o Ogro, então ela continuava indo à ponte, dia após dia. Ttrazia um livro e um lanche e passava parte do lanche ao outro lado da ponte. O Ogro, agora, sentava-se ao lado dela, mas ainda do lado dele da ponte, e ouvia as histórias que ela lia em voz alta. Sentavam-se assim todos os dias, separados apenas por uma linha imaginária que dividia a ponte exatamente ao meio. Não foi muito depois de esse ritual se estabelecer que o Ogro e a Princesa começaram a trocar opiniões sobre os livros e sobre a vida.
A Princesa, então, parecia não mais lembrar o motivo pelo qual tinha começado a vir à ponte. Tudo o que pensava era sobre o tempo que passaria com o Ogro, sobre o que eles conversariam. O Ogro realmente parecia apreciar as histórias que ela lhe trazia e a companhia que nela encontrava. Isso trouxe à princesa uma felicidade nunca antes sentida. O Ogro olhava para ela com olhos bondosos e ela esqueceu das sombras que um dia viu em seu olhar. Um dia, admitiu ao Ogro que havia se apaixonado por ele e sugeriu que era hora de ela cruzar a ponte. O Ogro aconselhou-a a não fazê-lo, mas a Princesa acreditava que a vida não tinha sentido se vivida pela metade. Ela decidiu atravessar a ponte de qualquer jeito. Agora admitia que há muito sonhava em beijar o não tão feio Ogro de lindos olhos. Ela veio à ponte em uma manhã de domingo. Usava um vestido de seda azul e branco. Um vestido que o Ogro, um dia, havia dito lhe fazia ainda mais bonita. O Ogro estava em pé no seu lado da ponte quando ela caminhou decididamente e atravessou o limite. A princesa lhe deu o mais apaixonado dos beijos que jamais existiu e, depois disso, nunca, jamais, foi vista novamente.
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