Hoje você morreu. Há mais de dez anos, você morreu. E, hoje, pensei em escrever em inglês, menos olhares complacentes, menos vozes me perguntando: "Ainda falando disso?" Às vezes fujo para o inglês. Hoje você morreu e levou com você quem eu era. Hoje eu sei que você não morreu só. Morreu a moça daquele tempo também. Ficou um espectro, um farrapinho, que teve que se plasmar em outro ser, outra pessoa.
Hoje você morreu e já faz tanto tempo! Mas todo ano, você morre mais uma vez e eu tenho que morrer de novo junto. E tenho que voltar dos escombros mais uma vez e recomeçar. E eu volto. Porque lá longe prometi que não iria e hoje não sou mais aquela que morreu. Uma vez por ano, morro de novo. E não tem jeito, não tem como. Olho o farrapo que fui, olho o estrago que se fez e sei que estou longe daquilo e sei que sobrevive-se a coisas inimagináveis, dores excruciantes, medos que escurecem o mundo. Sobrevive-se. E com sorte, ou com empenho, é possível construir outras obras, abrir novas estradas, acender outras luzes.
Hoje você morreu e já faz tanto tempo! Mas todo ano, você morre mais uma vez e eu tenho que morrer de novo junto. E tenho que voltar dos escombros mais uma vez e recomeçar. E eu volto. Porque lá longe prometi que não iria e hoje não sou mais aquela que morreu. Uma vez por ano, morro de novo. E não tem jeito, não tem como. Olho o farrapo que fui, olho o estrago que se fez e sei que estou longe daquilo e sei que sobrevive-se a coisas inimagináveis, dores excruciantes, medos que escurecem o mundo. Sobrevive-se. E com sorte, ou com empenho, é possível construir outras obras, abrir novas estradas, acender outras luzes.
Não sei o que seria daquela que hoje morreu com você, se você tivesse ficado. Aquela outra, não sei. Sei dessa aqui que afundou, que quase se afogou. Perambulou cega e só, muito tempo. E a culpa foi e não foi sua. E você morreu. Essa que ficou, hoje nada longas distâncias. Essa que ficou, sabe que se fica, mas se pode ir como um raio, ao atravessar a rua, ao dar o primeiro passo, ao piscar os olhos ou ao manter-se estática. Melhor caminhar.
E eu caminho e quando olho para trás não tenho certeza ainda de o que vem a ser esse novo ser que sou eu. É recente. Esse novo ser tem pouco mais de dez anos e enterrou trinta e poucos anos no seu enterro, aquele ao qual não pode comparecer. Esse ser caminha e busca e ousa e carrega também uma dor maior que o mundo, mas não quer o compadecimento de ninguém. Não quer mensagens de otimismo, muito menos de esperança religiosa. Mergulhos rasos que não saem de si mesmos, arrogâncias de entender o que não se entende, nem se justifica.
Danem-se encontros e compensações futuras. Fiquem com eles e respeitem meus trinta anos enterrados e minha caminhada em busca de luz, minha ressurreição. Não há tempo para futuros longínquos. Não tenho tempo para suas ilusões calmantes, suas enervantes bondades. Fiquem com elas! Caminho para o que é feito de agora, para o que toca hoje, este minuto, e é isso o que pode ficar para o amanhã. O amor de hoje, a luz de hoje, o criar e cuidar de hoje. O resto está enterrado, o resto uma vez por ano retorna mais forte, mas o resto do resto é o meu caminhar.
Danem-se encontros e compensações futuras. Fiquem com eles e respeitem meus trinta anos enterrados e minha caminhada em busca de luz, minha ressurreição. Não há tempo para futuros longínquos. Não tenho tempo para suas ilusões calmantes, suas enervantes bondades. Fiquem com elas! Caminho para o que é feito de agora, para o que toca hoje, este minuto, e é isso o que pode ficar para o amanhã. O amor de hoje, a luz de hoje, o criar e cuidar de hoje. O resto está enterrado, o resto uma vez por ano retorna mais forte, mas o resto do resto é o meu caminhar.
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