Skip to main content

O Oceano



Ficou lá, em pé, nas pedras, contemplando o oceano. Esse oceano que tocou tantas praias, onde tantos sonhos foram sonhados, em tantas diferentes línguas. Esse oceano ao qual se sentiu tão ligado, seu parceiro de outras vidas, tão familiar, tão misterioso. Para ele, desconhecido.

Lá permaneceu, parado, olhando fixamente, observando as rítmicas idas e vindas. Sentia-se atraído por sua intensidade, pelo movimento das ondas. Tentava entender o porquê. Ouvia atentamente seus sons.

Imaginava o prazer de sentir-se coberto por suas águas, sentindo sua temperatura, subermergindo em sua profundidade, deixando seu corpo ser carregado pelas correntes. Podia adivinhar as correntes, profundas correntes.

Nadadores enfrentavam tais correntes. Ele já vira. Mergulhando das pedras, eles se jogavam. Com suas primeiras braçadas furiosas, confrontavam as marés, domavam as correntes. Voltavam exaustos, sem fôlego e extasiados. Mas ele não era nadador. Vinha contemplando esse oceano há alguns anos. Ouvia seu chamado. Enchia sua vida monótona, seus sonhos, suas fantasias.


Deu um passo mais à frente. Olhou para baixo, fechou os olhos, ouviu a voz, chamando por seu nome, insistindo. Ficou lá, na ponta da pedra, sentiu a brisa, lambeu o sal que ela trouxe aos seus lábios e o saboreou por um momento. Abriu os olhos, sentiu-os arder pelo Sol. Respirou fundo, virou-se e caminhou na direção oposta.

Comments

Popular posts from this blog

The kind of person who lights candles

  I am the kind of person who lights candles. This is now, not then. it is a recently acquired habit, one that has done me well. I light up candles every day. In the beginning of each class I set up an intention, I focus and I light the candle. I ask myself to be the light, to be the container, not the conduit. I am now the kind of person Who walks barefoot on the grass of my backyard and lets herself shower in the improbable rain of Brasilia in May.  The four elements rest now on my desk making my therapist smile when told about them, making her proud of myself and my journey. I am the kind of person that feels the connection with the elements, and nature and the universe, so new. I am again a newborn being. And it is not the first time, I have once died and it’s no secret. This time, however, I did not have to die. I had only to shed the old skin, the one who served me no more. I am still the kind of person who looks in the mirror and who wonders who this new being is. This new self

No espelho

  Olhei hoje para o espelho e me vi mais serena, me enxerguei com mais leveza. Não que esteja de fato mais leve, eu acho. Ou será que estou? Tenho ainda infinitas incertezas e dúvidas aos milhares, mas a imagem que me olhou de volta do espelho, não me olha com tristeza, dor pânico.     A imagem que vejo nesse espelho é de     calma, no olhar certa paz, talvez de se entender humana, imperfeita e aceitar essa condição.     Aqui, deste lado que estou, me observando no espelho, sinto ainda o coração encolher como se uma mão o quisesse esmagar. Encolhe-se para sobreviver e expande-se em seguida. Ao encolher-se, a respiração dá uma pausa e uma bolha de cristal sobe em refluxo, pausando ali no meio da goela. Assim que pode, o coração retorna a seu pulsar, seu ir e vir. Permanecem ali as dúvidas, as exigências, as demandas, mas também os desejos de só ser, irresponsavelmente ser e atender a cada quimera. Porque a vida é curta! A vida é sopro!    E o outro? Os outros? Todos os outros?  É precis

Sobre os artistas - Para Bruno Sandes

  Créditos da imagem: Jacobs School of Music Marketing and Publicity