Sento na varanda de casa. E spalhados pela mesa estão livros, tintas e pincéis. O silêncio compõe-se do contínuo som da panela de pressão ao fogo, pios de pássaros e ocasionais carros que aceleram motores por trás do alambrado verde que erguemos no lugar da baixa grade de antes. Há planos de uma cerca elétrica. Planos meus de uma cerca elétrica, de que não gosto e a que rejeito, mas fazem parte da ideia de vida segura para nós, para nossas filhas. Dia noventa e alguma coisa da quarentena de 2020. Será que já passamos de cem? Mais de cinquenta mil mortos foi a informação de ontem, mais de um milhão de casos. Uma grande cidade do país doente, talvez a população de um pequeno país da Europa. Mais de um milhão... Hoje, quatro e três da tarde, certamente mais. Não conheço nem um morto. Alguns casos são parentes de amigos, um ou outro conhecido. O sol perpassa as folhas das árvores que não plantei no jardim e aquece meu rosto. Ilumina a mesa e a grama, de maneira irregula...