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Showing posts from July, 2020

Dia Noventa e Alguma Coisa - Notas da Quarentena

Sento na varanda de casa.  E spalhados pela mesa estão livros, tintas e pincéis. O silêncio compõe-se do contínuo som da panela de pressão ao fogo, pios de pássaros e ocasionais carros que aceleram motores por trás do alambrado verde que erguemos no lugar da baixa grade de antes. Há planos de uma cerca elétrica. Planos meus de uma cerca elétrica, de que não gosto e a que rejeito, mas fazem parte da ideia de vida segura para nós, para nossas filhas. Dia noventa e alguma coisa da quarentena de 2020. Será que já passamos de cem? Mais de cinquenta mil mortos foi a informação de ontem, mais de um milhão de casos. Uma grande cidade do país doente, talvez a população de um pequeno país da Europa. Mais de um milhão... Hoje, quatro e três da tarde, certamente mais. Não conheço nem um morto. Alguns casos são parentes de amigos, um ou outro conhecido.  O sol perpassa as folhas das árvores que não plantei no jardim e aquece meu rosto. Ilumina a mesa e a grama, de maneira irregula...

Brigadeiro

Uma panela velhinha, o fundo equilibra-se instável na boca do fogo baixo. As alças foram repostas há vinte, trinta anos... A panela tem mais idade. As alças pretas combinam hoje com as diversas manchas negras de tempo e de uso. Hoje em meio ao isolamento social que ultrapassa os cem dias, eu fiz brigadeiro nessa panela.  A mesma receita que era dela: Uma lata de leite condensado, quatro colheres de chocolate, bem cheias, e duas colheres de manteiga ,tão cheias quanto as outras. Cada volta da colher me levou de novo à ela, a seu sorriso, a seu cantarolar e sua voz me sussurrou, mais uma vez, que o ponto é quando a gente vira a panela e a massa brilhante do doce movimenta-se una e uniforme, deixando aparecer a  que ficou no fundo. “Não raspe a panela! Deixe cair em um prato fundo apenas o que se solta dela.” O que fica, com seus furinhos aerados, é a raspa. É, talvez, como o passado do brigadeiro. A gente pode até degusta-la um pouquinho, voltar a ela, mas ela...

Meta

Carvar em si a própria história Que linhas sejam  infinitas e tantas  que  a o fim não sobre centímetro descoberto Sentar-se então  sobre crenças e sentimentos em equilíbrio leve e sutil Alcançar a paz de saber-se vivo e vivido  De guardar em si o de onde veio E levar-se junto aonde quer que se vá.