Skip to main content

Posts

Showing posts from October, 2018

Para dentro é para onde vou

Lavando os copos e as taças de espumante que deixei para depois, os copos e taças da última Oficina que coordenei e repousaram ali no fim de semana. Sábado brindávamos o sentimento bom de criar e compor o mundo, de partilhar e acolher o outro. Domingo votávamos e hoje lavo os copos e taças do sábado. Enquanto lavo, me pergunto, como seguirei um trabalho que pretende abrir caminho para a voz de cada um, a voz única consonante e divergente de cada um em um mundo que só quer ouvir “Sim, senhor!” Será possível por muito tempo continuar construindo o que só pôde ser imaginado após as portas se abrirem? Lavando os copos e as taças, precisei parar, sentar e aqui colocar para fora o que me vai por dentro triste. Não quero conviver mais com tanta gente, não quero mais saber o que tanta gente pensa. Não era assim que vivíamos antes das redes sociais e não somos obrigados a viver assim. Nos últimos tempos, nos últimos votos, fui apresentada ao que pensa gente demais, gente educada, ...

Edson, o Gênio

Edson era muito esperto! Mamãe sempre dizia. Tudo o que falava, ela logo alardeava: "Não é um gênio?!?" A família era cegueta E em terra de cego quem tem um olho é rei ou o capeta! Edson acreditava que o que via com seu olho só era tudo o que havia E assim prosseguia! Mas Edson dormia no ponto Perdia todos os bondes E comia tantas, mas tantas, bolas que um dia rolou ladeira abaixo e se acabou no precipício. Fim do Edson! Amém!

Pilha

Pilha pra carregar brinquedo Pilha pra funcionar relógio  Menino pilhado  que tem formigueiro na bunda  sem botão de desligar Botar pilha em amigo  Pilhar alguém pro bem ou pro mal  Acabar a pilha da motivação  Chorar o saque e a pilhagem A pilha de roupa no tanque A pilha de conta a pagar  Estar uma pilha de nervos  Trocar a pilha da lanterna  pra no escuro não ficar E tem pilha palha E tem pilha alcalina  Que faz Coelho bater tambor  Pra vida toda e mais um dia  E quem quer tambor de Coelho pra sempre? Um dia a pilha tem que acabar Nem que seja pro Coelho descansar

Resisting in Poetry

“The real poet is always a resistance force. The false poet, however, regardless of the causes he argues to advocate, is always conniving”, the Portuguese writer Sophia de Mello Breyner Andresen stated this in an interview in 1963. One year previous to the military coup d’état suffered by Brazil  which brought us twenty years of dictatorship and an authoritarian and antidemocratic inheritance that keeps so many of us still hostage  as if we were still living a Stockholm syndrome of sorts. Today, 2018, her words comfort me in my poet’s fate, in my truth and in the fact that I stand surrounded by other very real and resistant poets. We resist together, seeking light in these dark times, in the search of a country where love would be the empire and diversity would triumph. It is in diversity that beauty resides, it is in beauty that poetry inhabits. The beauty found in our day to day struggles, the beauty found in the truth and battles we face, the beauty found in the swea...

Resistir na Poesia

“O verdadeiro poeta é sempre um resistente. Mas o falso poeta, sejam quais forem as causas que diz defender, é sempre um conivente” disse Sophia de Mello Breyner Andresen, escritora portuguesa,  em entrevista em 1963. Um ano antes do golpe militar que sofreu o Brasil, em 1964, e que nos trouxe  vinte anos de ditadura e uma herança antidemocrática e autoritária que nos prende a tantos como se vivêssemos ainda uma síndrome de Estocolmo.  Hoje, 2018, suas palavras me consolam no destino de ser poeta, na minha verdade e no fato de estar cercada de verdadeiros e resistentes outros poetas. Resistimos juntos, na busca da luz nessas trevas, na busca de um país em que impere o amor e triunfe o que é diverso.   É no diverso que reside o belo, é no belo que mora a poesia. O belo de cada dia, o belo da garra e da luta, o belo do suor do trabalho, do olhar com respeito e amor, da verdadeira fé no humano.   Sophia nos alerta, também, lá em 1963, ...