Hoje você morreu. Há mais de dez anos, você morreu. E, hoje, pensei em escrever em inglês, menos olhares complacentes, menos vozes me perguntando: "Ainda falando disso?" Às vezes fujo para o inglês. Hoje você morreu e levou com você quem eu era. Hoje eu sei que você não morreu só. Morreu a moça daquele tempo também. Ficou um espectro, um farrapinho, que teve que se plasmar em outro ser, outra pessoa. Hoje você morreu e já faz tanto tempo! Mas todo ano, você morre mais uma vez e eu tenho que morrer de novo junto. E tenho que voltar dos escombros mais uma vez e recomeçar. E eu volto. Porque lá longe prometi que não iria e hoje não sou mais aquela que morreu. Uma vez por ano, morro de novo. E não tem jeito, não tem como. Olho o farrapo que fui, olho o estrago que se fez e sei que estou longe daquilo e sei que sobrevive-se a coisas inimagináveis, dores excruciantes, medos que escurecem o mundo. Sobrevive-se. E com sorte, ou com empenho, é possível construir outras obras, abrir...