Quando a primeira árvore tombou, não me doeu tanto. O ser racional em mim, lembrou: “já era o plano, não tem jeito! A projeção desse prédio um dia ia acontecer.” Foi quando a terceira árvore caiu e eu vi o passaredo voando em desespero que meu coração apertou. Sinto agora culpa por não ter me condoído pela primeira árvore. Passei a semana em dor e raiva por esses seres silentes assassinados diariamente na minha frente. A vontade é de ir lá embaixo e quebrar essa maldita barulhenta serra que destrói o que meu olhar se acostumou a apreciar, minhas vizinhas. Os homens, simples e pobres, não têm culpa, mesmo assim tenho raiva deles, coitados. Raiva e pena porque são eles e não os mandantes que têm que ouvir as reclamações, os desaforos dos outros vizinhos mais corajosos ou mais desesperados que eu que vão lá com eles ralhar. Eu fico e fiquei aqui com a minha dor, vendo agora um lindo bando de borboletas amarelas em debandada. Em breve não ouvirei mais os pás...