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Showing posts from May, 2020

De onde vim

Eu vim de azulejos portugueses, Guaraná Jesus  e chiclete ploc.  Vim da casa avarandada de cerâmica fria e brisa morna,  de banho de bica e de chuva no quintal  Sou o Babaçu que ondula Eu vim de torta de camarão e banho de mar De Santos e de Sales  Sou de verdades ditas na cara e de choro fácil De não usar calça de veludo deixando a bunda de fora e não se abaixar muito porque o fundo aparece Eu vim da ilha, do caranguejo na água fervente, do peixe frito com farinha d’água Vim de quem fumou desde os catorze e morreu de câncer de pulmão,  de quem encheu cinco livros de palavras para esquecer de todas elas Eu sou do Hospital Português, das vastas brancas areias e das águas turvas do mar.  Baseado no poema Where I’m From de George Ella Lyon 

Mestre Arnaldo quem me deu (do Poema Pedra de Pedra de Pedra de Arnaldo Antunes)

"Onde planta não prospera, prosperaria o amor?" Onde árido seco inerte, onde há medo e onde há dor? Planta carece adubo, chuva, terra, sol também Planta precisa de amor! Se planta dele carece e sem ele não há vida Como brota planta e flor? Vem-me um dilema sem fim desses que menino teima, insiste e chega a ficar até triste, nasceu o ovo ou a galinha  primeiro? Pergunta com dedo em riste E veja lá! Veja bem! Essa cisma nem é minha! Mestre Arnaldo quem me deu! De amor que não prospera De planta que ali não vinga Ele lá isso falou Ele lá isso me disse Eu aqui encasquetei A sua cisma pesquei Com água e tempo reguei E dobrei a curva além Pr'eu falar de amor também.