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No espelho

  Olhei hoje para o espelho e me vi mais serena, me enxerguei com mais leveza. Não que esteja de fato mais leve, eu acho. Ou será que estou? Tenho ainda infinitas incertezas e dúvidas aos milhares, mas a imagem que me olhou de volta do espelho, não me olha com tristeza, dor pânico.     A imagem que vejo nesse espelho é de     calma, no olhar certa paz, talvez de se entender humana, imperfeita e aceitar essa condição.     Aqui, deste lado que estou, me observando no espelho, sinto ainda o coração encolher como se uma mão o quisesse esmagar. Encolhe-se para sobreviver e expande-se em seguida. Ao encolher-se, a respiração dá uma pausa e uma bolha de cristal sobe em refluxo, pausando ali no meio da goela. Assim que pode, o coração retorna a seu pulsar, seu ir e vir. Permanecem ali as dúvidas, as exigências, as demandas, mas também os desejos de só ser, irresponsavelmente ser e atender a cada quimera. Porque a vida é curta! A vida é sopro!    E o outro? Os outros? Todos os outros?  É precis
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The kind of person who lights candles

  I am the kind of person who lights candles. This is now, not then. it is a recently acquired habit, one that has done me well. I light up candles every day. In the beginning of each class I set up an intention, I focus and I light the candle. I ask myself to be the light, to be the container, not the conduit. I am now the kind of person Who walks barefoot on the grass of my backyard and lets herself shower in the improbable rain of Brasilia in May.  The four elements rest now on my desk making my therapist smile when told about them, making her proud of myself and my journey. I am the kind of person that feels the connection with the elements, and nature and the universe, so new. I am again a newborn being. And it is not the first time, I have once died and it’s no secret. This time, however, I did not have to die. I had only to shed the old skin, the one who served me no more. I am still the kind of person who looks in the mirror and who wonders who this new being is. This new self

Sobre os artistas - Para Bruno Sandes

  Créditos da imagem: Jacobs School of Music Marketing and Publicity

Spring/Fall 2020

Fall in the United States, Fall in the Midwest, my favorite season. When it is Fall there, it is Spring where I am., but Spring where I am is not at all what you would imagine. A dry season. So dry your skin looks gray, your lips crack and your nose bleeds.  It may even make you think of Fall (there) with the carpets of leaves covering sidewalks and parks. You can see them running together when the wind blows the earth beneath them. They run and fly, a few inches from the ground, in a wave of browns and ochers. Spring, here is no time for all flowers. I've said it before and it is true: Flowers here bloom at their will, at their own chosen times. Except for the Ipês. Ipê flowers bloom when all seems lost and dry. They bloom and they are a spectacle! I call them pompom flowers. First, come the pink. There was a tree right in front of the building we used to live. Then, come the yellow, my mother's favorite. Finally, trees are covered by white pompons, which remind me of cherry b

Dia Noventa e Alguma Coisa - Notas da Quarentena

Sento na varanda de casa.  E spalhados pela mesa estão livros, tintas e pincéis. O silêncio compõe-se do contínuo som da panela de pressão ao fogo, pios de pássaros e ocasionais carros que aceleram motores por trás do alambrado verde que erguemos no lugar da baixa grade de antes. Há planos de uma cerca elétrica. Planos meus de uma cerca elétrica, de que não gosto e a que rejeito, mas fazem parte da ideia de vida segura para nós, para nossas filhas. Dia noventa e alguma coisa da quarentena de 2020. Será que já passamos de cem? Mais de cinquenta mil mortos foi a informação de ontem, mais de um milhão de casos. Uma grande cidade do país doente, talvez a população de um pequeno país da Europa. Mais de um milhão... Hoje, quatro e três da tarde, certamente mais. Não conheço nem um morto. Alguns casos são parentes de amigos, um ou outro conhecido.  O sol perpassa as folhas das árvores que não plantei no jardim e aquece meu rosto. Ilumina a mesa e a grama, de maneira irregular, neste

Brigadeiro

Uma panela velhinha, o fundo equilibra-se instável na boca do fogo baixo. As alças foram repostas há vinte, trinta anos... A panela tem mais idade. As alças pretas combinam hoje com as diversas manchas negras de tempo e de uso. Hoje em meio ao isolamento social que ultrapassa os cem dias, eu fiz brigadeiro nessa panela.  A mesma receita que era dela: Uma lata de leite condensado, quatro colheres de chocolate, bem cheias, e duas colheres de manteiga ,tão cheias quanto as outras. Cada volta da colher me levou de novo à ela, a seu sorriso, a seu cantarolar e sua voz me sussurrou, mais uma vez, que o ponto é quando a gente vira a panela e a massa brilhante do doce movimenta-se una e uniforme, deixando aparecer a  que ficou no fundo. “Não raspe a panela! Deixe cair em um prato fundo apenas o que se solta dela.” O que fica, com seus furinhos aerados, é a raspa. É, talvez, como o passado do brigadeiro. A gente pode até degusta-la um pouquinho, voltar a ela, mas ela não segue para a f

Meta

Carvar em si a própria história Que linhas sejam  infinitas e tantas  que  a o fim não sobre centímetro descoberto Sentar-se então  sobre crenças e sentimentos em equilíbrio leve e sutil Alcançar a paz de saber-se vivo e vivido  De guardar em si o de onde veio E levar-se junto aonde quer que se vá. 

De onde vim

Eu vim de azulejos portugueses, Guaraná Jesus  e chiclete ploc.  Vim da casa avarandada de cerâmica fria e brisa morna,  de banho de bica e de chuva no quintal  Sou o Babaçu que ondula Eu vim de torta de camarão e banho de mar De Santos e de Sales  Sou de verdades ditas na cara e de choro fácil De não usar calça de veludo deixando a bunda de fora e não se abaixar muito porque o fundo aparece Eu vim da ilha, do caranguejo na água fervente, do peixe frito com farinha d’água Vim de quem fumou desde os catorze e morreu de câncer de pulmão,  de quem encheu cinco livros de palavras para esquecer de todas elas Eu sou do Hospital Português, das vastas brancas areias e das águas turvas do mar.  Baseado no poema Where I’m From de George Ella Lyon 

Mestre Arnaldo quem me deu (do Poema Pedra de Pedra de Pedra de Arnaldo Antunes)

"Onde planta não prospera, prosperaria o amor?" Onde árido seco inerte, onde há medo e onde há dor? Planta carece adubo, chuva, terra, sol também Planta precisa de amor! Se planta dele carece e sem ele não há vida Como brota planta e flor? Vem-me um dilema sem fim desses que menino teima, insiste e chega a ficar até triste, nasceu o ovo ou a galinha  primeiro? Pergunta com dedo em riste E veja lá! Veja bem! Essa cisma nem é minha! Mestre Arnaldo quem me deu! De amor que não prospera De planta que ali não vinga Ele lá isso falou Ele lá isso me disse Eu aqui encasquetei A sua cisma pesquei Com água e tempo reguei E dobrei a curva além Pr'eu falar de amor também.

Those who learn the secret

Those who learn the secret do not scream like you do, and if they do, they do not punish themselves forever, like you do. Those who learn the secret remember to breathe in and out slowly and find little things to do to try to make the place a little more colorful, light and beautiful.  Those who learn the secret treat others kindly. They do not buy all the toilet paper from the supermarket or the masks from the drugstore. They are kind and believe in kindness. They know someone will help them in a time of need. Also, if there is no more toilet paper in the world,  they know they can still shower. Those who learn the secret often cry for those who they cannot help, but find reasons to laugh even when in face of their own, so far small, misfortunes. They keep Quarantine diaries to keep them sane or bear witness if the apocalypse is inevitable.  Those who learn the secret understand we were never meant to be eternal, but we can still be meaningful. Those who learn the